terça-feira, 6 de dezembro de 2016
sábado, 12 de março de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Medo medo medo!
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O marginal
Apenas um marginal, nada que se apresenta como certo atrai os pensamentos de quem nasceu livre, é o certo seguir normas e se comportar em alguma linha apresentada, o marginal não tem consciência e é egoísta, completa se muito em si mesmo a ponto de não enxergar o que querem mostrar, é egocêntrico ao ponto de acreditar que não há perigo que o faça desanimar, o marginal é herói porque enfrenta fácil, os maiores pesadelos humanos, acreditando na inteligência como única forma de seguridade, nada o atinge, nada o faz parar.
É o homem jogado as beiradas, é a mente que não se cura, é o rei do seu próprio mundo, o senhor de suas ilusões e construtor de seus castelos, modelador da arte, com olhos que saltam pelas tangentes, ele não vê o óbvio e perambula pelo universo paralelo, como o vento modela as pedras, os instintos modelam sua alma, é um animal, isento de culpa, sobrevive do necessário, nem mais nem menos, não alcança muito depois de seu nariz, é tudo o que conhece, quem esta ali, quem sempre esteve, não tem grandes pretensões e segue seu traçado, é um nômade e não tem casa.
É um sonho com peito enorme, é o andarilho das estrelas, é o doutor das estradas, o entendedor do fluxo das coisas, não tem pressa e nem vai devagar, no tempo certo o marginal se põe, em um relógio sem dinâmica, mergulhado no globo ocular de um mar profundo e imprevisível, é o marginal, o que não se adequa na linha tênue entre a loucura da natureza que se basta e a lógica dos homens que se destroem.
Ele é louco, não é pobre não é rico, não é feio nem é bonito, é o substrato da procura por algo ainda existente de prazeres simples e de homens senhores de seus destinos.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Mais um dia
Há se tivesse acordado antes daquele sonho individual, solitário e auto-suficiente acontecer. Há se tivesse percebido que somos completos e imperfeitos ao mesmo tempo, que nada se basta sozinho.
As fachadas na cidade, as pixações. Pequenas histórias, pequenas mensagens, um pouco de expressão, um pouco de poesia. A particularidade que abarca um todo, um todo construído de particularidades.
Na vitrine de uma loja havia uma lagartixa, uma dessas pequenas histórias, a historia do pequeno réptil. Os carros passavam, as pessoas passavam, e a lagartixa intacta na vitrine. Será que alguém á viu ? Se viu não matou, e assim ela vai vivendo na vidraça, anônima no centro da cidade.
Talvez sejamos também anônimos, alheios ao universo, talvez sejamos universos particulares e interdependentes. Escrevo diante da janela, na frente da rua, pessoas passam a todo o momento, carros, motos e bicicletas vem e vão. Talvez eu esteja na vidraça esperando algum inseto.
O mundo acontece nos murros, nos sorrisos, nas placas, no barulho do vento, como fragmentos de uma enciclopédia sem fim. As coisas se dependem para existir, a pessoalidade acontece em meio à universalidade.
Depois de tanto caminhar só pude perceber que estava tudo ali, bem na minha frente, uma conclusão óbvia! Conclusões óbvias são difíceis de entender, e até mesmo de acreditar. Como quando descobriram a lei da gravidade por causa de uma maçã.
Um outro ângulo irradia tudo agora, é como deixar de usar uma corrente nos pés, ou retirar os óculos escuros em um dia de muito sol, como na história daquele mito, ainda vivemos em cavernas.
Acontece primeiro o susto, os pés que já estavam acostumados com a dor da corrente demoram a se adaptar á liberdade, e a retina que quase não via luz se dilata no momento da retirada dos óculos, você se torna cego de uma vez ou talvez um louco que não queira ver o que ô cerca. Poucos enxergam depois de ver o sol forte, a coragem de vencer uma crença é escassa, difícil de alcançar, melhor para os homens enfrentar uma guerra sem sentido, levar um tiro e morrer por uma ilusão á retirar o véu que encobre os ideais forjados.
Os novos sentidos adquiridos aos poucos enquanto a pupila dilata, são difíceis de serem explicados, muito diferentes de uma explicação comum, é tão mais fácil viver em um mundo particular e continuar como sempre, com crenças comuns de não precisar de nada alem de si mesmo. O que há agora não é um egoísmo triunfante, é a vontade que compete para o bem de tudo, é uma lógica sensitiva, se é que isso existe. A luz não se compõe sozinha, ela acontece se conseguir se infiltrar em todos os cantos.
A importância das pequenas coisas, dos pequenos milagres, a coragem de acreditar em sonhos, a atenção com algo mais alem da ponta do nariz, é a engrenagem que faz continuar, que não se deixa alienar. Se antes era uma parte desconexa de um todo, agora entendo o processo, ou melhor, sinto o processo. É só fazendo parte do processo que se torna o todo, que se constrói algo, observando as janelas e as lagartixas.
São outras as realizações agora, não que aquelas antigas não aconteçam mais, a diferença está na importância de cada elemento, em saber o que buscamos e porque buscamos.
Não digo para deixar de lutar, de correr atrás dos objetivos, dos sonhos... Afinal esse é o sentido único de viver - buscar os sonhos.
sábado, 4 de julho de 2009
Um estranho no ônibus
Se Deus é um estranho no ônibus, será que nos esbarramos hoje? Foram tantos rostos que passaram rápido pelos meus olhos, será que se Deus tivesse passado eu o teria visto? Andei rápido demais, corri até o ponto, queria chegar logo, esperei calado, sentado de longe na plataforma, mais um dia comum.
Alguém passou por mim, me observou de longe e eu não vi, eu observei outra pessoa algum tempo, ela também não viu, eu pude nunca ter estado ali, mas estive, será que alguém lembra? Quem me observou? Eu já não lembro de quem eu vi...Nós estávamos ali, mas quem lembra?
Passos repetidos, bem programados, passando pelas coisas e pessoas como obstáculos, cada um a seu tempo, pensando nas coisas que ainda teria de fazer, pensando nos minutos que perdi, pensando nas pessoas, outras pessoas, pessoas que eu conheço, não aquelas que me cercavam.
Peguei o Ônibus, olhei a janela, caminho repetido, mas eu sempre olho a janela, como se buscasse algo diferente, mas é a mesma coisa. Dentro do ônibus gente que nunca vi, com suas historias seus medos e seus segredos, mas meu caminho repetido me parecia mais interessante.
Desci no ponto de sempre, nunca fui além daquele ponto, e nunca pensei em ir também. Por onde o ônibus passava depois de ter me deixado perto de casa? Andava muito ainda? Pouco me importava, desci e fui caminhando pela estrada empoeirada.
O melhor de andar sozinho é pensar, a estrada é longa e assim se pensa por muito tempo, se chega a conclusões e depois as conclusões se transformam em dúvidas, e assim tudo vai ocorrendo como que em um ciclo até o fim do caminho.
Terminada a estrada, no portão de casa, entro, ligo o computador, escuto uma música, penso no dia, nas coisas que fiz, com que estive com quem não pude estar, o que fiz e o que deixei de fazer.
Não lembro do meu caminho, dos terminais, das estações, de quem estava nas estações, como se aquilo tudo fosse programado, como se nem estivesse ali, era só o caminho e nada mais.
Liguei a Tv, um homem foi encontrado morto no banheiro do terminal, não sabiam quem era, o que fazia, se era da cidade ou do interior, concluíram o óbvio : que ele estava sozinho e sem documentos.
Penso que quando passei pelo terminal ele já estivesse morto, ou estivesse passando mal, mas não ô vi! Ninguém viu! Como pode ser? Era uma multidão e ninguém viu.
Meus pensamentos continuaram fechados em mim mesmo, meu medo foi de ter acontecido comigo, o homem no banheiro poderia ter sido qualquer um, sangrou até morrer dentro de um banheiro de terminal, um roubo seguido de assassinato em um banheiro sujo..
Qualquer um pode obrigar alguém a entrar naqueles banheiros, o mundo acontece e os olhos estão fechados, enxergamos nós mesmos, nossos caminhos, nossas vidas e só! Se esbarrarmos em algo desviamos e continuamos o caminho, sem nem ter prestado atenção no que ficou para trás.
Se Deus é um estranho no ônibus, ele passou e eu nem percebi, não por desatenção, mas parece que o infinito particular é maior do qualquer multidão, nossos sentidos estão sempre a compreender nós mesmos, como ver algo além disso?
Coloquei-me acima de todas as coisas, só vi minha estrada, o mundo aconteceu, um homem morreu a poucos metros, não percebi e nem poderia, mas quantas e quantas vezes alguém precisou de ajuda e não foi visto?
É, se Deus é um estranho no ônibus ele tem caminhado bem sozinho..
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Olho por olho
Não me lembro de nada antes, não tinha muita noção de tempo nem de espaço, como se tudo tivesse começado ali, naquele momento com o pneu furado. Era um lugar como uma BR, rodovia grande de trânsito rápido. Lá mais na frente já longe da cidade avistei uma borracharia, feia e meio sombria, todas elas tem esse aspecto, mas essa parecia diferente, parei para fazer o remendo.
Muita gente na porta, muitas motos, do lado havia um bar como esses de setor, em que só há homens e com jeito de mal encarados. Parei e pedi para remendarem o pneu, o borracheiro disse que precisava de uma nova câmara de ar, fiquei com cara de quem duvidava, ele fez questão de mostrar o tamanho do rasgado e disse que não enganava ninguém!
Conferi a carteira, vi que não tinha dinheiro para uma câmara nova, justo naquele dia, estava longe demais para ir a um banco ou qualquer outro lugar. Oremendo apenas não serviria, estava com um problema.
Perguntei se podia deixar algum documento como garantia de que voltaria para pagar o conserto, o borracheiro olhou com um ar de dúvida para o seu ajudante e acabou concordando. De repente, alguém vinha da esquerda dizendo que pagava, era meu pai, não entendi o que fazia ali tão longe, naquele lugar estranho com gente estranha, mas sei lá, pai serve para essas coisas, para ajudar nos momentos de precisão.
Um tumulto começou no bar, o borracheiro mal tinha começado a colocar a roda, um rapaz tentava fugir, devia ter uns 22 anos, um topete, uma camiseta muito colorida com estampa de dragão, calça jeans cheia de detalhes e costuras.
Logo pegaram o fugitivo, haviam ameaçado dar lhe um tiro, então resolveu se render. Pediu desculpas enquanto era segurado por dois homens que levaram-nó para uma mesa e o sentaram.
O dono do bar trouxe uma toalha, o jovem então disparou a chorar de forma humilhante, enquanto isso o borracheiro trabalhava como se nada acontecesse, o dono disse algumas coisas ao rapaz com cara de quem dava um conselho, parecia não estar feliz com o que teria de fazer.
Trouxeram uma serra, jogaram a toalha encima da mesa, colocaram a mão do rapaz por cima. De um lado um firmava seu braço intacto na mesa, de outro lado puxavam seus dedos, e ele desesperado suplicava e tentava se soltar, suplicas em vão, mal podia se mexer.
Começou a carnificina! Foram serrando lhe o braço, cada ida e vinda me matava de agonia, e a moto demorando a ficar pronta. O jovem gritava, gritava muito, puseram uma camisa em sua boca para que se calasse. A serra ia e voltava. Eu não podia fazer nada, era horrível.
O pior de todos os testemunhos, a pior sensação de minha vida. Todos em volta achando normal, um cara se virou e disse: é.., esse não sai mais sem pagar!
Os dois serviços terminaram quase ao mesmo tempo, o pneu e a punição. Jogaram um pouco de açúcar no que sobrou do braço (para cicatrizar), enrolaram um pano em cima. O roubo havia custado um preço alto, caro demais, o jovem foi embora a pé com cara de desespero, andando devagar, apertando o punho contra o peito, como alguém que é punido e sabe a razão da punição.
Logo limparam a bagunça, o dono do estabelecimento ordenou que a filha jogasse fora a mão amputada, e limpasse tudo com água e sabão para não espantar os fregueses. Pegou então a mão desmembrada pelas falanges, e jogou em uma sacola plástica.
Eu estava em pânico, principalmente quando lembrava do serra-serra, acordei então derrepente com o telefone tocando e com as cenas do sonho na memória