segunda-feira, 8 de junho de 2009

Olho por olho

Não me lembro de nada antes, não tinha muita noção de tempo nem de espaço, como se tudo tivesse começado ali, naquele momento com o pneu furado. Era um lugar como uma BR, rodovia grande de trânsito rápido. Lá mais na frente já longe da cidade avistei uma borracharia, feia e meio sombria, todas elas tem esse aspecto, mas essa parecia diferente, parei para fazer o remendo.

Muita gente na porta, muitas motos, do lado havia um bar como esses de setor, em que só há homens e com jeito de mal encarados. Parei e pedi para remendarem o pneu, o borracheiro disse que precisava de uma nova câmara de ar, fiquei com cara de quem duvidava, ele fez questão de mostrar o tamanho do rasgado e disse que não enganava ninguém!

Conferi a carteira, vi que não tinha dinheiro para uma câmara nova, justo naquele dia, estava longe demais para ir a um banco ou qualquer outro lugar. Oremendo apenas não serviria, estava com um problema.

Perguntei se podia deixar algum documento como garantia de que voltaria para pagar o conserto, o borracheiro olhou com um ar de dúvida para o seu ajudante e acabou concordando. De repente, alguém vinha da esquerda dizendo que pagava, era meu pai, não entendi o que fazia ali tão longe, naquele lugar estranho com gente estranha, mas sei lá, pai serve para essas coisas, para ajudar nos momentos de precisão.

Um tumulto começou no bar, o borracheiro mal tinha começado a colocar a roda, um rapaz tentava fugir, devia ter uns 22 anos, um topete, uma camiseta muito colorida com estampa de dragão, calça jeans cheia de detalhes e costuras.

Logo pegaram o fugitivo, haviam ameaçado dar lhe um tiro, então resolveu se render. Pediu desculpas enquanto era segurado por dois homens que levaram-nó para uma mesa e o sentaram.

O dono do bar trouxe uma toalha, o jovem então disparou a chorar de forma humilhante, enquanto isso o borracheiro trabalhava como se nada acontecesse, o dono disse algumas coisas ao rapaz com cara de quem dava um conselho, parecia não estar feliz com o que teria de fazer.

Trouxeram uma serra, jogaram a toalha encima da mesa, colocaram a mão do rapaz por cima. De um lado um firmava seu braço intacto na mesa, de outro lado puxavam seus dedos, e ele desesperado suplicava e tentava se soltar, suplicas em vão, mal podia se mexer.

Começou a carnificina! Foram serrando lhe o braço, cada ida e vinda me matava de agonia, e a moto demorando a ficar pronta. O jovem gritava, gritava muito, puseram uma camisa em sua boca para que se calasse. A serra ia e voltava. Eu não podia fazer nada, era horrível.

O pior de todos os testemunhos, a pior sensação de minha vida. Todos em volta achando normal, um cara se virou e disse: é.., esse não sai mais sem pagar!

Os dois serviços terminaram quase ao mesmo tempo, o pneu e a punição. Jogaram um pouco de açúcar no que sobrou do braço (para cicatrizar), enrolaram um pano em cima. O roubo havia custado um preço alto, caro demais, o jovem foi embora a pé com cara de desespero, andando devagar, apertando o punho contra o peito, como alguém que é punido e sabe a razão da punição.

Logo limparam a bagunça, o dono do estabelecimento ordenou que a filha jogasse fora a mão amputada, e limpasse tudo com água e sabão para não espantar os fregueses. Pegou então a mão desmembrada pelas falanges, e jogou em uma sacola plástica.

Eu estava em pânico, principalmente quando lembrava do serra-serra, acordei então derrepente com o telefone tocando e com as cenas do sonho na memória