sexta-feira, 1 de maio de 2009

As flores!

Os punhos e os pulsos cortados e o resto do meu corpo inteiro, não sei o que foi, me lembro do espelho, sinto que vou indo embora debaixo do chuveiro, talvez seja um sonho bom, talvez um pesadelo. A água oscila entre quente e fria, quando quase durmo a ducha cai gelada, nunca transborda, a densidade do sangue  entope o ralo e desce de tempos em tempos.

Só o que me importa é parar esse frio, me agoniza por inteiro, mais do que os furos, mais do que tudo, só queria um lugar bem quente. 

Alguém entra desesperado, porque tanta pressa? Um vulto, essa rapidez incomoda meus olhos, eles já não estão tão espertos, tão atentos, isso me cansa mais ainda. Me puxa pra fora do Box, não vejo sua cara, de repente vai juntando mais e mais gente no banheiro, da onde vieram ? Pra onde estão me levando? Não reconheço a cara de ninguém, no lugar de enxergar as faces me vêm a mente aqueles olhos fixados que me puxaram pra dentro.

Não sinto o frio, me puseram roupas, me levaram pro quarto, é assombroso, esse mesmo quarto com que estou acostumado assumiu outra forma. Encima da cama não há calor, uma temperatura constante que não assume importância alguma . Nem por um segundo me preocupo com que iria fazer amanha ou depois, parece que sumiram as preocupações, que o tempo desapareceu! Fico feliz, nunca gostei de dormir em cômodos com relógio.

Em uma cadeira, não sei quem, me observa, e às vezes se perde nos pensamentos. Essa cadeira não é daqui, é da sala. As coisas não acontecem em seqüências lógicas, é como se dormisse e acordasse e  então um longo período tivesse passado ou voltado, é estranho.

O sangue tem gosto de lágrima, é o que sinto na boca, os cortes estão tampados, é o que vem de dentro que sangra, me lembra quando criança e ainda chorava. Homem não chora nem por ter nem por perder.

Fizeram o máximo que podiam, tentativas em vão de me fazer pulsar, aqui deitado como uma mumia vendo o teto, com a bariga para cima, nunca durmi assim, porque me colocaram dessa forma agora ?

A dor passou e nem senti, fechou os cortes e curou as lastimas o desejo de não sentir dor foi à dor em si, me sinto bem, como jamais tinha sentido.

Tudo vem à mente e fica branco, vai e vem, o que nem acreditava lembrar, o que nunca poderia esquecer. Se estava sozinho, se ela tinha dormido aqui, se fiquei muito tempo no banho, se me machuquei... Sei do que veio depois, do quarto, da choradeira. O resto é confuso.

Não poderia ter me feito mal, não sou desses... Ou sou ? Sempre agüentei tudo nem sei porque, não seria agora, não sairia pela tangente... Mais fácil acreditar no improvável, que ela não estava lá, que não havia ganancia, que era só amor mal resolvido, o que não é e o que não pode ser, mas agora tanto faz, eu levo a culpa comigo em paz. Ter tirado o que me é era mais importante, seria possível ?

Põem-me um terno preto, novinho, devo estar bonito! Não me fazem elogios, pelo contrario, dizem que estou pálido, que meu sorriso faz falta. Engraçado como o corpo já não pode refletir a alma, acreditei estar sorrindo agora.

Ela aparece e se lamenta, grita, soluça desesperada, não acredito nesse disfarce, é alguem muito distante da que me apareceu no reflexo embaçado do espelho, algo me diz não ser verdade, mas que fique com suas mentiras, que leve o que não lhê pertecence, carego só o que de solido pude conquistar, vou atrás dos meus sonhos profundos que sempre esquecia ao acordar.

Desejo firme ir embora, essa tristeza incomoda, porque de tanto exagero, afinal é apenas uma mudança, pra onde irei agora ? Será que verei todos depois? será que vamos nos encontrar um dia na eternidade ? Ou pra cada um é de um jeito ?

Outro lugar, nem vi chegar, será que atenderam meu pedido? um jardim como em um filme, se perde de vista e me dá à sensação de que não verei aquele quarto jamais. Nem roupas pretas, nem ternos, debaixo dessa arvore isso não me preocupa, nem minha cama, nem nada. Tenho certeza que se caminhar mais adiante verei a praia, aqui não há facas, não quero ir embora e não preciso  usar sapatos.

Pessoas entram e saem, posso ver todos os rostos agora, me atiram flores e dão as costas caminhando pro mar, todos eles de uma forma ou de outra fizeram diferença, cada um me diz algo novo. Aqueles olhos no reflexo embaçado sumiram de vez, que sejam felizes também, não há espaço para o ódio, a raiva é o fim, o perdão é o meio e o amor o começo, voltamos para o começo então. Há flores por todos os lados há flores em tudo que eu vejo.

Uma garota se senta em um banco próximo, é o único banco, começa a tocar seu violoncelo, todo o som irradia o local, é algo que não poderia ser descrito nem repetido, o tipo de coisa que é feita uma vez só. Eu me lembro dela, sumiu a muito tempo, me fez uma falta tremenda, e alguns dias atrás começou a aparecer sempre em lembranças remotas.

Em algun momento perdemos nossa ligação, difícil saber quando, como em um contratempo, como algo que era crucial e de repente se foi, naquela época em que podiamos tudo e não sabiamos nada, sendo os mais sabios porque enxergávamos as coisas como elas eram de fato, simples e nescessárias de serem observadas. Mas ela está aqui agora, não lembro seu nome, nem sei porque, repeti tantas vezes e cheguei a esquecer, passei tantos dias morto sem  saber.

A garota sem nome terminou sua música, encostou seu instrumento cuidadosamente na árvore, como pode ser? ela abarcou o mundo inteiro com uma música, não poderia mesmo ter nome, resumiria muito, criaria significados para algo sem significados, que ninguém poderia descrever ou falar sobre. Seguiu na direção que os outros foram, eu vou atrás, dessa vez não posso deixar passar, eu vou correr, vou tomar um banho de mar, agarar minha vida que estava perdida e então nós vamos ser para sempre um só.

11 comentários:

  1. Veio da música dos titãs Flores
    hehehhe
    impossiível perceber ne !?
    kkkkkkkk
    obrigado pra todo mundo que me ajudou lendo e dando opiniões o/
    tentei melhorar vamo ver se deu certo nee..

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  2. Cara achei muito bom. Não conheço a música que se referiu no teu comentário à cima, mas gostei muito do texto. Opinião sincera! hahaha
    Não tinha costume de acompanhar teu blog, mas pode ter certeza que o farei agora, quando tiver coisas novas pode me avisar! :)
    Aproveito o espaço também pra dizer que fiz algumas alterações no texto do meu blog, o qual conversamos, se quiser dar uma passada pra conferi. Abraços.

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  3. Ricardo, eu gostei do seu texto, vai envolvendo a gente, a descrição do jardim, a música e a menina sem nome, bonito isso.
    Hoje que vi que estou sem seu link, estou levando ele comigo.
    beijos da janela

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  4. Mudou um pouco o texto!!!
    Sinceramente, acho que é um dos melhores textos que vc já escreveu (até agora).
    =)

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  5. Algo como o útero materno, mas dps a morte nao morrida de alguem procurando viver a vida que lhe foi um dia invivida.
    Rebusques de minha parte, não um comentário a altura de seu texto Ricardo.

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  6. Nossa que absurdo, é lógico que é a altura \o/
    hehe
    espero que seja só ate agoraa
    vaaaleu
    e vcs tao demorando muito a postar x)

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  7. Maravilha!
    Lembrei de várias músicas de várias bandas incríveis que fizeram parte da minha infância e adolescencia e uma
    narrativa FANTASTICA!
    Insólito, criativo e bem estruturado!
    Perfeito!!!
    Adorei!!!

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  8. Essa quinta é minha. Ok!

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  9. Ricardo, to apanhando do Blogger.
    O texto de quinta está lá.
    Só q eu não sei programar para postar quinta.
    E tb ta tudo desconfigurado.
    Coloquei uma imagem.
    Ela fica no meio, e em seguida vem o txto em forma de poema(centralizado tb), so q eu nao consigo arrumar a fonte(qual fonte vcs usam?) e os espaços.
    E agora?
    Me ajuda!

    E desculpa deixar recados por aqui, é q desfiz o orkut e quase nao entro no msn.
    Se quiser te mando e-mail. Qual é o q vc usa mais?

    Bju grande!

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