sábado, 4 de julho de 2009

Um estranho no ônibus

Se Deus é um estranho no ônibus, será que nos esbarramos hoje? Foram tantos rostos que passaram rápido pelos meus olhos, será que se Deus tivesse passado eu o teria visto? Andei rápido demais, corri até o ponto, queria chegar logo, esperei calado, sentado de longe na plataforma, mais um dia comum.

Alguém passou por mim, me observou de longe e eu não vi, eu observei outra pessoa algum tempo, ela também não viu, eu pude nunca ter estado ali, mas estive, será que alguém lembra? Quem me observou? Eu já não lembro de quem eu vi...Nós estávamos ali, mas quem lembra?

Passos repetidos, bem programados, passando pelas coisas e pessoas como obstáculos, cada um a seu tempo, pensando nas coisas que ainda teria de fazer, pensando nos minutos que perdi, pensando nas pessoas, outras pessoas, pessoas que eu conheço, não aquelas que me cercavam.

Peguei o Ônibus, olhei a janela, caminho repetido, mas eu sempre olho a janela, como se buscasse algo diferente, mas é a mesma coisa. Dentro do ônibus gente que nunca vi, com suas historias seus medos e seus segredos, mas meu caminho repetido me parecia mais interessante.

Desci no ponto de sempre, nunca fui além daquele ponto, e nunca pensei em ir também. Por onde o ônibus passava depois de ter me deixado perto de casa? Andava muito ainda? Pouco me importava, desci e fui caminhando pela estrada empoeirada.

O melhor de andar sozinho é pensar, a estrada é longa e assim se pensa por muito tempo, se chega a conclusões e depois as conclusões se transformam em dúvidas, e assim tudo vai ocorrendo como que em um ciclo até o fim do caminho.

Terminada a estrada, no portão de casa, entro, ligo o computador, escuto uma música, penso no dia, nas coisas que fiz, com que estive com quem não pude estar, o que fiz e o que deixei de fazer.

Não lembro do meu caminho, dos terminais, das estações, de quem estava nas estações, como se aquilo tudo fosse programado, como se nem estivesse ali, era só o caminho e nada mais.

Liguei a Tv, um homem foi encontrado morto no banheiro do terminal, não sabiam quem era, o que fazia, se era da cidade ou do interior, concluíram o óbvio : que ele estava sozinho e sem documentos.

Penso que quando passei pelo terminal ele já estivesse morto, ou estivesse passando mal, mas não ô vi! Ninguém viu! Como pode ser? Era uma multidão e ninguém viu.

Meus pensamentos continuaram fechados em mim mesmo, meu medo foi de ter acontecido comigo, o homem no banheiro poderia ter sido qualquer um, sangrou até morrer dentro de um banheiro de terminal, um roubo seguido de assassinato em um banheiro sujo..

Qualquer um pode obrigar alguém a entrar naqueles banheiros, o mundo acontece e os olhos estão fechados, enxergamos nós mesmos, nossos caminhos, nossas vidas e só! Se esbarrarmos em algo desviamos e continuamos o caminho, sem nem ter prestado atenção no que ficou para trás.

Se Deus é um estranho no ônibus, ele passou e eu nem percebi, não por desatenção, mas parece que o infinito particular é maior do qualquer multidão, nossos sentidos estão sempre a compreender nós mesmos, como ver algo além disso?

Coloquei-me acima de todas as coisas, só vi minha estrada, o mundo aconteceu, um homem morreu a poucos metros, não percebi e nem poderia, mas quantas e quantas vezes alguém precisou de ajuda e não foi visto?

É, se Deus é um estranho no ônibus ele tem caminhado bem sozinho..

3 comentários:

  1. Muito bom. Baseado na música? Não a conheço! hehehe mas gostei muito do texto!!! de verdade. é pura verdade o que tu falou. Continue assim!

    abraços

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  2. Pronto, agora estou com a música na cabeça.

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